Fraturas da Escápula - Saiba Como Avaliar e Tratar

Leonardo Zanesco • 21 de maio de 2025

As fraturas da escápula são lesões relativamente raras devido à proteção oferecida pelos músculos e pela posição anatômica do osso. Quando ocorrem, costumam estar relacionadas a traumas de alta energia e estão frequentemente associadas a outras lesões graves, especialmente torácicas e pulmonares. A escápula desempenha papel fundamental na função e estabilidade do ombro, tornando essencial uma avaliação cuidadosa e tratamento adequado para prevenir sequelas funcionais importantes.


Anatomia


A escápula é um osso triangular, achatado, localizado na parte posterior do ombro, conectando-se ao braço e à clavícula, formando o que chamamos de "cintura escapular". Suas principais estruturas incluem a glenóide (parte que articula com o úmero), o corpo, o colo, a espinha da escápula, o acrômio e o processo coracóide.


Alguns pontos anatômicos são fundamentais no tratamento das fraturas da escápula, especialmente a glenóide e o colo escapular, devido à importância dessas regiões para a
função articular do ombro.




Classificação de Ideberg

A classificação de Ideberg é utilizada para descrever as fraturas que envolvem a cavidade glenoidal da escápula:

  • Tipo I: Fratura com desvio mínimo da margem anterior (subtipo a) ou posterior (subtipo b) da glenóide.
  • Tipo II: Fratura transversal da glenóide inferior.
  • Tipo III: Fratura oblíqua através da glenóide, geralmente atingindo a margem superior.
  • Tipo IV: Fratura horizontal que separa a glenóide em parte superior e inferior.
  • Tipo V: Combinação das fraturas tipo II e IV, frequentemente com grande deslocamento.
  • Tipo VI: Fratura complexa cominutiva envolvendo toda a glenóide.




Critérios para Definir entre Tratamento Conservador e Cirúrgico


A escolha entre tratamento conservador e cirúrgico das fraturas da escápula não é absoluta e depende de diversos fatores como idade, demanda funcional e riscos cirúrgicos.


Pacientes com baixa demanda funcional, idosos, ou com alto risco cirúrgico, geralmente são candidatos ao tratamento conservador, mesmo com critérios radiográficos que poderiam indicar cirurgia.


Por outro lado, pacientes jovens, ativos e com alta demanda funcional podem necessitar de tratamento cirúrgico para garantir a recuperação total da performance, ainda que os critérios radiográficos sejam menos graves.


Critérios radiográficos importantes incluem:

  • Desvio significativo da superfície articular (>4 mm).
  • Angulação ou encurtamento significativo da glenóide ou colo escapular.
  • Fraturas cominutivas e instáveis.
  • Deslocamento médio-lateral (offset da borda lateral) ≥ 20 mm.
  • Deformidade angular anteroposterior ≥ 45 graus.
  • Redução do ângulo glenopolar para ≤ 20–22 graus.
  • Deformidade angular combinada ≥ 35 graus com deslocamento médio-lateral ≥ 15 mm.
  • Lesões duplas deslocadas do complexo suspensor superior do ombro (SSSC):
  • Fraturas da clavícula e escápula com deslocamento ≥ 10 mm.
  • Separação acromioclavicular completa associada a fratura da escápula com deslocamento ≥ 10 mm.
  • Descartar fratura do tipo “falso colo da glenóide” (ou seja, uma fratura inferior).


Avaliação radiográfica

Na figura acima estão ilustrados alguns dos principais parâmetros avaliados e citados anteriormente nos critérios de indicação cirúrgica.



Legenda: Medição do deslocamento médio-lateral (M/L) ou offset da borda lateral na radiografia anteroposterior (AP) (A) e tomografia computadorizada (TC) tridimensional (3D) póstero-anterior (PA) (B). Essa medição é realizada em radiografias AP ou TC 3D PA com a visão lateral para medial mais ampla. O deslocamento M/L é a distância entre uma linha vertical partindo da porção lateral do fragmento superior e uma linha vertical partindo da porção lateral do fragmento inferior.


Medição da translação na radiografia lateral (escapular em Y) (C) e TC 3D com vista frontal da glenoide após subtração do úmero (D). A translação é calculada como a distância entre os córtices anterior (ou posterior) dos fragmentos superior e inferior ao nível da fratura.

Medição da angulação AP ou deformidade angular nas radiografias laterais (escapular em Y) (E) e imagem correspondente na TC 3D (F). A angulação é calculada entre duas linhas desenhadas paralelas aos córtices anterior e posterior dos fragmentos superior e inferior da fratura. Observe que a imagem da TC examina a glenoide frontalmente, visualizando a escápula de lateral para medial após subtração do úmero.


Medição do ângulo glenopolar (GPA) na radiografia AP da escápula (G) e TC 3D PA (H). O GPA é calculado como o ângulo entre uma linha do polo inferior ao polo superior da fossa glenoidal e uma linha do polo superior da fossa glenoidal até o ângulo inferior do corpo da escápula. O valor normal do GPA varia entre 30 e 45 graus.


Reabilitação no Tratamento Conservador


A reabilitação no tratamento conservador inicia-se após um período inicial de imobilização curta (1-2 semanas) para controle da dor e edema. A seguir, progride-se com exercícios ativos e passivos para restaurar gradualmente a mobilidade, fortalecimento muscular e estabilização escapular, com supervisão fisioterapêutica.


Técnica Cirúrgica


O tratamento cirúrgico depende da região da escápula afetada:

  • Glenóide e Colo: Normalmente requerem redução anatômica precisa com fixação rígida, podendo necessitar de acessos amplos e técnicas complexas. A cirurgia artroscópica ou minimamente invasiva pode ser usada em casos selecionados.
  • Corpo, Espinha e Acrômio: Geralmente estabilizados com placas e parafusos por meio de incisões menores.
  • Processo Coracoide: Tratado com parafusos específicos para evitar complicações neurovasculares.


Devido à complexidade anatômica, essas cirurgias são delicadas, exigindo experiência e habilidade técnica avançada para resultados satisfatórios. Na figura a seguir estão alguns exemplos de fraturas tratadas cirurgicamente.


Legenda : Acima, fratura da tipo III de Ideberg tratada com parafuso de compressão. Abaixo, fratura tipo IV de Ideberg tratada com placas e parafusos envolvendo diferentes técnicas.


Possíveis Complicações


As principais complicações incluem:


  • Rigidez articular e limitação funcional.
  • Não consolidação da fratura (pseudoartrose).
  • Artrose pós-traumática.
  • Lesões nervosas ou vasculares.
  • Infecção pós-operatória.


Cuidados adequados no pós-operatório, com reabilitação correta, são fundamentais para minimizar esses riscos.


Conheça o Dr. Leonardo Zanesco | Tratamento para Fraturas da Escápula


Se você está em busca de um ortopedista com expertise e experiência em tratamentos conservador e cirúrgico de fraturas da escápula, sou o Dr. Leonardo Zanesco, médico assistente do Grupo de Ombro e Cotovelo do Hospital das Clínicas da USP e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBCOC). Como cirurgião especializado em ombro e cotovelo, ofereço o mais alto padrão de cuidado, adaptado às suas necessidades específicas. Com vasta experiência em técnicas cirúrgicas tradicionais e inovadoras, minha prática é baseada nas evidências científicas, confiança entre médico e paciente, excelência técnica e um profundo conhecimento na área.


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Referências Bibliográficas

  • Sernandez HC, Riehl JT, Fogel J. Sling and forget it? A systematic review of operative versus nonoperative outcomes for scapula fractures. J Shoulder Elbow Surg. 2024 Dec;33(12):2743-2754. doi: 10.1016/j.jse.2024.05.042. Epub 2024 Jul 22. PMID: 39048030.
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  • Tornetta III P, Ricci WM, Ostrum RF, McQueen MM, McKee MD, Court-Brown CM. Rockwood and Green’s Fractures in Adults. 9ª edição. Wolters Kluwer; 2020.
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