Fraturas da Clavícula - Saiba Como Avaliar e Tratar

Leonardo Zanesco • 28 de maio de 2025

As fraturas da clavícula são lesões frequentes, representando cerca de 2,6% a 4% de todas as fraturas em adultos. Elas ocorrem principalmente em indivíduos jovens, frequentemente associadas a atividades esportivas ou acidentes ciclísticos. Os mecanismos mais comuns incluem quedas sobre o ombro com força axial transmitida à clavícula ou trauma direto sobre o osso.


Anatomia


A clavícula é um osso em formato de "S" que conecta o membro superior ao tronco através da articulação esternoclavicular medialmente e à escápula pela articulação acromioclavicular lateralmente. Este osso desempenha um papel crucial na movimentação e estabilidade da cintura escapular, servindo como ponto de fixação muscular e como um suporte rígido para a suspensão do ombro. Pontos anatômicos importantes incluem a inserção do músculo esternocleidomastoideo medialmente e a inserção do músculo deltóide lateralmente.




Classificação de Robinson

A classificação de Robinson é amplamente utilizada para categorizar as fraturas da clavícula com base em sua localização e deslocamento:



  • Tipo 1: Fraturas do terço medial
  • 1A: Sem desvio
  • 1B: Com desvio
  • Tipo 2: Fraturas do terço médio (mais comuns)
  • 2A: Fraturas simples, sem desvio significativo
  • 2B: Fraturas cominutivas ou com desvio significativo
  • Tipo 3: Fraturas do terço lateral
  • 3A: Fratura distal sem envolvimento dos ligamentos coracoclaviculares
  • 3B: Fratura distal com ruptura dos ligamentos coracoclaviculares



Critérios para Tratamento Conservador ou Cirúrgico



A decisão entre tratamento conservador e cirúrgico depende da avaliação do alinhamento, função e possíveis deformidades da cintura escapular como um todo. 


O tratamento conservador é geralmente indicado para fraturas sem desvio ou com pouco desvio, utilizando tipicamente uma tipóia ou imobilização em oito. 


Indicações de tratamento cirúrgico classicamente utilizadas na literatura são:


  • Encurtamento > 2cm
  • Desvio > 2cm
  • Fragmentação > 3
  • Fraturas bilaterais
  • Fraturas de membros inferiores com necessidade de reabilitação dos membros superiores precoce para uso de muletas
  • Lesões neurovasculares
  • Fraturas exposta


Há uma tendência crescente ao tratamento cirúrgico em fraturas com desvio significativo devido ao risco de até 15% de não-união no tratamento conservador, mesmo em casos que não preenchem os critérios citados acima.


Reabilitação no Tratamento Conservador


O tratamento conservador normalmente envolve imobilização inicial com tipoia por 4 a 6 semanas, seguida por exercícios graduais para recuperação da amplitude de movimento, fortalecimento muscular e retorno progressivo às atividades normais e esportivas. A fisioterapia é importante para minimizar a rigidez articular do ombro e garantir uma recuperação funcional adequada.


Tratamento Cirúrgico


O método cirúrgico escolhido depende da localização da fratura:


  • Terço Medial: Fraturas dessa região frequentemente apresentam comportamento semelhante a luxações esternoclaviculares devido à proximidade e à relação anatômica com a articulação esternoclavicular. Sua estabilidade depende da integridade dos ligamentos e das estruturas capsulares locais. Normalmente, o tratamento cirúrgico envolve uso de placas, amarrilhos e parafusos, porém pode ser tecnicamente desafiador devido à proximidade com estruturas neurovasculares importantes, incluindo grandes vasos e vias aéreas superiores.
  • Terço Médio: São as fraturas mais comuns e oferecem diversas opções de tratamento, como placas bloqueadas convencionais ou minimamente invasivas, hastes intramedulares ou amarrilhos. Recentes estudos mostram que pacientes com fraturas encurtadas e desviadas, especialmente acima de 2 cm, podem se beneficiar da cirurgia devido à redução significativa da taxa de não-união, comparado ao tratamento conservador. Apesar disso, alguns pacientes com fraturas deslocadas conseguem cicatrizar de maneira satisfatória, ainda que com deformidades visíveis, porém com função preservada.



Terço Lateral: As fraturas do terço lateral têm comportamento semelhante às luxações acromioclaviculares, devido à possível ruptura dos ligamentos coracoclaviculares. Essas lesões são desafiadoras porque frequentemente apresentam instabilidade significativa, requerendo o uso de placas gancho, placas específicas ou técnicas adicionais como reconstruções ligamentares para restaurar a estabilidade da articulação e garantir cicatrização adequada.




Resultados do Tratamento Conservador versus Cirúrgico


Recentes revisões na literatura indicam que o tratamento cirúrgico apresenta menor taxa de não-união e resultados funcionais geralmente superiores em fraturas deslocadas e encurtadas, embora não apresente diferenças significativas em longo prazo no que diz respeito a dor ou qualidade de vida geral comparado ao tratamento conservador. A cirurgia permite retorno funcional mais precoce, porém envolve riscos maiores como infecção pós-operatória, irritação pelo material implantado e necessidade de retirada posterior dos implantes.


Possíveis Complicações


As complicações associadas ao tratamento das fraturas da clavícula incluem:


  • Não-união ou retardo na consolidação
  • Consolidação viciosa com deformidade estética ou funcional
  • Irritação de pele ou proeminência de placas e parafusos
  • Infecção pós-operatória
  • Lesões neurovasculares, raras, porém potencialmente graves
  • Osteoartrite secundária na articulação acromioclavicular ou esternoclavicular


Conheça o Dr. Leonardo Zanesco | Tratamento para Fraturas da Clavícula


Se você está em busca de um ortopedista com expertise e experiência em tratamentos conservador e cirúrgico de fraturas da clavícula, sou o Dr. Leonardo Zanesco, médico assistente do Grupo de Ombro e Cotovelo do Hospital das Clínicas da USP e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBCOC). Como cirurgião especializado em ombro e cotovelo, ofereço o mais alto padrão de cuidado, adaptado às suas necessidades específicas. Com vasta experiência em técnicas cirúrgicas tradicionais e inovadoras, minha prática é baseada nas evidências científicas, confiança entre médico e paciente, excelência técnica e um profundo conhecimento na área.

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Referências Bibliográficas

  • von Rüden C, Rehme-Röhrl J, Augat P, Friederichs J, Hackl S, Stuby F, Trapp O. Evidence on treatment of clavicle fractures. Injury. 2023 Oct;54 Suppl 5:110818. doi: 10.1016/j.injury.2023.05.049. Epub 2023 May 15. PMID: 37217399.
  • Ropars M, Thomazeau H, Huten D. Clavicle fractures. Orthop Traumatol Surg Res. 2017 Feb;103(1S):S53-S59. doi: 10.1016/j.otsr.2016.11.007. Epub 2016 Dec 30. PMID: 28043849.
  • Tornetta III P, Ricci WM, Ostrum RF, McQueen MM, McKee MD, Court-Brown CM. Rockwood and Green’s Fractures in Adults. 9ª edição. Wolters Kluwer; 2020.
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