Fraturas da Clavícula - Saiba Como Avaliar e Tratar
As fraturas da clavícula são lesões frequentes, representando cerca de 2,6% a 4% de todas as fraturas em adultos. Elas ocorrem principalmente em indivíduos jovens, frequentemente associadas a atividades esportivas ou acidentes ciclísticos. Os mecanismos mais comuns incluem quedas sobre o ombro com força axial transmitida à clavícula ou trauma direto sobre o osso.
Anatomia
A clavícula é um osso em formato de "S" que conecta o membro superior ao tronco através da articulação esternoclavicular medialmente e à escápula pela articulação acromioclavicular lateralmente. Este osso desempenha um papel crucial na movimentação e estabilidade da cintura escapular, servindo como ponto de fixação muscular e como um suporte rígido para a suspensão do ombro. Pontos anatômicos importantes incluem a inserção do músculo esternocleidomastoideo medialmente e a inserção do músculo deltóide lateralmente.

Classificação de Robinson
A classificação de Robinson é amplamente utilizada para categorizar as fraturas da clavícula com base em sua localização e deslocamento:
- Tipo 1: Fraturas do terço medial
- 1A: Sem desvio
- 1B: Com desvio
- Tipo 2: Fraturas do terço médio (mais comuns)
- 2A: Fraturas simples, sem desvio significativo
- 2B: Fraturas cominutivas ou com desvio significativo
- Tipo 3: Fraturas do terço lateral
- 3A: Fratura distal sem envolvimento dos ligamentos coracoclaviculares
- 3B: Fratura distal com ruptura dos ligamentos coracoclaviculares

Critérios para Tratamento Conservador ou Cirúrgico
A decisão entre tratamento conservador e cirúrgico depende da avaliação do alinhamento, função e possíveis deformidades da cintura escapular como um todo.
O tratamento conservador é geralmente indicado para fraturas sem desvio ou com pouco desvio, utilizando tipicamente uma tipóia ou imobilização em oito.
Indicações de tratamento cirúrgico classicamente utilizadas na literatura são:
- Encurtamento > 2cm
- Desvio > 2cm
- Fragmentação > 3
- Fraturas bilaterais
- Fraturas de membros inferiores com necessidade de reabilitação dos membros superiores precoce para uso de muletas
- Lesões neurovasculares
- Fraturas exposta
Há uma tendência crescente ao tratamento cirúrgico em fraturas com desvio significativo devido ao risco de até 15% de não-união no tratamento conservador, mesmo em casos que não preenchem os critérios citados acima.
Reabilitação no Tratamento Conservador
O tratamento conservador normalmente envolve imobilização inicial com tipoia por 4 a 6 semanas, seguida por exercícios graduais para recuperação da amplitude de movimento, fortalecimento muscular e retorno progressivo às atividades normais e esportivas. A fisioterapia é importante para minimizar a rigidez articular do ombro e garantir uma recuperação funcional adequada.
Tratamento Cirúrgico
O método cirúrgico escolhido depende da localização da fratura:
- Terço Medial: Fraturas dessa região frequentemente apresentam comportamento semelhante a luxações esternoclaviculares devido à proximidade e à relação anatômica com a articulação esternoclavicular. Sua estabilidade depende da integridade dos ligamentos e das estruturas capsulares locais. Normalmente, o tratamento cirúrgico envolve uso de placas, amarrilhos e parafusos, porém pode ser tecnicamente desafiador devido à proximidade com estruturas neurovasculares importantes, incluindo grandes vasos e vias aéreas superiores.
- Terço Médio: São as fraturas mais comuns e oferecem diversas opções de tratamento, como placas bloqueadas convencionais ou minimamente invasivas, hastes intramedulares ou amarrilhos. Recentes estudos mostram que pacientes com fraturas encurtadas e desviadas, especialmente acima de 2 cm, podem se beneficiar da cirurgia devido à redução significativa da taxa de não-união, comparado ao tratamento conservador. Apesar disso, alguns pacientes com fraturas deslocadas conseguem cicatrizar de maneira satisfatória, ainda que com deformidades visíveis, porém com função preservada.


Terço Lateral: As fraturas do terço lateral têm comportamento semelhante às luxações acromioclaviculares, devido à possível ruptura dos ligamentos coracoclaviculares. Essas lesões são desafiadoras porque frequentemente apresentam instabilidade significativa, requerendo o uso de placas gancho, placas específicas ou técnicas adicionais como reconstruções ligamentares para restaurar a estabilidade da articulação e garantir cicatrização adequada.

Resultados do Tratamento Conservador versus Cirúrgico
Recentes revisões na literatura indicam que o tratamento cirúrgico apresenta menor taxa de não-união e resultados funcionais geralmente superiores em fraturas deslocadas e encurtadas, embora não apresente diferenças significativas em longo prazo no que diz respeito a dor ou qualidade de vida geral comparado ao tratamento conservador. A cirurgia permite retorno funcional mais precoce, porém envolve riscos maiores como infecção pós-operatória, irritação pelo material implantado e necessidade de retirada posterior dos implantes.
Possíveis Complicações
As complicações associadas ao tratamento das fraturas da clavícula incluem:
- Não-união ou retardo na consolidação
- Consolidação viciosa com deformidade estética ou funcional
- Irritação de pele ou proeminência de placas e parafusos
- Infecção pós-operatória
- Lesões neurovasculares, raras, porém potencialmente graves
- Osteoartrite secundária na articulação acromioclavicular ou esternoclavicular
Conheça o Dr. Leonardo Zanesco | Tratamento para Fraturas da Clavícula
Se você está em busca de um ortopedista com expertise e experiência em tratamentos conservador e cirúrgico de fraturas da clavícula, sou o Dr. Leonardo Zanesco, médico assistente do Grupo de Ombro e Cotovelo do Hospital das Clínicas da USP e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBCOC). Como cirurgião especializado em ombro e cotovelo, ofereço o mais alto padrão de cuidado, adaptado às suas necessidades específicas. Com vasta experiência em técnicas cirúrgicas tradicionais e inovadoras, minha prática é baseada nas evidências científicas, confiança entre médico e paciente, excelência técnica e um profundo conhecimento na área.
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Referências Bibliográficas
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- Tornetta III P, Ricci WM, Ostrum RF, McQueen MM, McKee MD, Court-Brown CM. Rockwood and Green’s Fractures in Adults. 9ª edição. Wolters Kluwer; 2020.