Fraturas do Olécrano: Como Avaliar e Tratar

Leonardo Zanesco • 13 de outubro de 2025

A fratura do olécrano (a “pontinha” do osso da ulna que você apalpa na parte posterior do cotovelo) é uma lesão relativamente comum do cotovelo. As fraturas da ulna proximal respondem por cerca de 10% de todas as fraturas do membro superior, sendo mais frequentes após quedas em pessoas mais velhas e em traumas de maior energia (como acidentes de trânsito ou esportes) em adultos jovens. O mecanismo pode ser um impacto direto no cotovelo ou uma contração forte do tríceps que “puxa” o olécrano e provoca a fratura (sendo este mecanismo muito frequente em praticantes de fisiculturismo que já apresentem previamente alterações degenerativas e presença de osteófitos).


Anatomia


O olécrano faz parte da ulna proximal e contribui para a estabilidade do cotovelo (articulação úmero-ulnar). Ele atua como um “batente” posterior que evita a translação anterior do úmero sobre a ulna e ajuda a manter o encaixe do cotovelo. Sua função mais nobre é servir de local de inserção do tendão do tríceps: é ele que permite a extensão (endireitar) o cotovelo com força. Estudos biomecânicos mostram que ressecções amplas do olécrano aumentam a rotação e o valgo do cotovelo, podendo levar à instabilidade quando a ressecção é muito extensa; além de comprometer o vetor de força do tendão do tríceps e comprometer sua função.





Classificação de Mayo


Tipo I:
fratura sem desvio (estável).

Tipo II: fratura desviada, porém estável.

  • IIA: sem cominuição (traço simples).
  • IIB: cominuta (em vários fragmentos).

Tipo III: fratura desviada e instável (associada à instabilidade do cotovelo).

  • IIIA: sem cominuição.
  • IIIB: com cominuição.



Exames de Imagem


Na imensa maioria dos casos, radiografias em AP e perfil do cotovelo são suficientes para confirmar o diagnóstico e orientar a conduta. A tomografia fica reservada para fraturas mais complexas (muito fragmentadas) ou quando há suspeita de lesões associadas (cabeça do rádio/coronoide) que mudem a estratégia de tratamento.




Critérios para escolha do tratamento


O tratamento não cirúrgico costuma ser indicado quando a articulação permanece congruente e a fratura é minimamente desviada ou sem desvio (especialmente Mayo tipo I e alguns tipo II muito estáveis). Diferente de outras fraturas do cotovelo, a maioria dos casos de fratura do olécrano acaba precisando de tratamento cirúrgico.


Reabilitação no Tratamento Conservador


A condução dá ênfase à mobilização precoce e evitar rigidez, porém devido a tração do tríceps é uma fratura com tendência ao desvio e não consolidação caso não seja realizada imobilização. Geralmente recomenda-se uso de gesso por 2 semanas, seguido de início imediato da fisioterapia, com reavaliação clínica e radiográfica seriada. 


Tratamento Cirúrgico


Quando há perda de extensão ativa, incongruência da articulação, exposição da fratura ou instabilidade, a cirurgia está indicada, sempre buscando redução anatômica da superfície articular e mobilização precoce. As principais técnicas são:


Ressecção do fragmento fraturário e avanço do tendão do tríceps:
 


Opção para pacientes de idade avançada e baixa demanda, quando a fratura é muito fragmentada e
não viável à reconstrução. A literatura alerta que ressecções muito extensas podem desestabilizar o cotovelo; por isso, esse procedimento é reservado a fragmentos menores e casos selecionados. Em geral ressecções de fragmentos menores que 25% são seguras e podem ser consideradas em casos selecionados com tamanho até 50%




Reconstrução com placa e parafuso (ORIF): 


É a técnica
mais versátil, indicada especialmente nas fraturas com cominuição e/ou instabilidade (incluindo transolecranon e extensões para o corpo da ulna). As placas pré-contornadas de ângulo fixo e baixo perfil, mais atuais, possibilitam uma taxa menor de complicações de cicatrização e menor desconforto no pós-operatório.





Banda de tensão com fios de Kirschner e cerclagem: 


Técnica
menos invasiva, de custo menor, preferida em traços simples e transversos (sem cominuição). Seu principal ponto de atenção é a proeminência do material, frequentemente levando à retirada de implante.



Possíveis Complicações


  • Retirada de material por incômodo/proeminência: varia de 15% a 85% conforme a técnica. Em estudos comparativos, a banda de tensão teve retirada em ≈50% dos casos vs ≈22% com placa; em uma grande série de placas, a taxa foi ≈15%.
  • Rigidez / perda de extensão: queixa comum; ≈10° de déficit em 37% após fixação com placa (geralmente sem grande impacto funcional).
  • Pseudartrose (não união): ≈1% dos casos.
  • Infecção / reoperação: no ensaio randomizado, o grupo placa teve mais infecções e revisões, mas sem diferença estatística em relação à banda de tensão.
  • Lesão iatrogênica neurovascular / impacto na PRUJ: relacionada a fios muito longos ou mal posicionados; respeitar os “safe zones” reduz o risco.


Conheça o Dr. Leonardo Zanesco | Tratamento para Fraturas do Olécrano em SP


Se você está em busca de um ortopedista com expertise e experiência em tratamentos conservador e cirúrgico de fraturas do olécrano, sou o Dr. Leonardo Zanesco, médico assistente do Grupo de Ombro e Cotovelo do Hospital das Clínicas da USP e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBCOC). Como cirurgião especializado em ombro e cotovelo, ofereço o mais alto padrão de cuidado, adaptado às suas necessidades específicas. Com vasta experiência em técnicas cirúrgicas tradicionais e inovadoras, minha prática é baseada nas evidências científicas, confiança entre médico e paciente, excelência técnica e um profundo conhecimento na área.

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Referências Bibliográficas


  • Morrey, Bernard F; Sanchez-Sotelo, Joaquin; Morrey, Mark E. Morrey's The Elbow and it's Disorders. 5ª edição. Elsevier; 2017.
  • Tornetta III P, Ricci WM, Ostrum RF, McQueen MM, McKee MD, Court-Brown CM. Rockwood and Green’s Fractures in Adults. 9ª edição. Wolters Kluwer; 2020.
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